Para um longa sobre uma assassina treinada desde pequena a
sobreviver a qualquer custo, Hanna soa muitas vezes como infantil, e até mesmo
parece se levar a sério demais em mais de uma ocasião. No entanto, basta
prestar atenção à relação dos contos Grimm com a trama para perceber que, além de
indubitavelmente empolgante em suas inúmeras sequências de ação (o flashback
que revela a ligação da personagem de Cate Blanchett com a da angelical Saoirse
Ronan é certamente o ponto alto da obra), Hanna é um filme sobre a personagem-título
como humana e não só como uma criação tão fria quanto a neve que a
punia em seu
lar.
E não a é, como deixam bem claro o roteiro e a atuação
excelente de Ronan: Hanna é uma criança que nem música conhece, e tudo o que sabe
e sente é como não ser subjugada por quaisquer inimigos que venham a seu
encontro - o que não a torna má, muito menos desumana, uma vez que a
protagonista faz o possível para descobrir o que há além daquele ambiente intrépido
onde inicialmente se encontra (e, irônica e inteligentemente, o primeiro passo
nessa direção é uma decisão merecida por sua maturidade).
Povoado por personagens relativamente extravagantes (note
como a antagonista gargalha num dos momentos finais do filme), Hanna estabelece
um tema infantil e ligeiramente cruel no ar -
algo que o espectador só perceberá nos momentos finais, se o fizer - sem
sacrificar a verossimilhança que, claro, chama muita atenção em obras
como esta.
A trilha sonora dos Chemical Brothers é notável por
incorporar e manipular sons do longa a favor de sua cinética ao mesmo tempo em
que estabelece motivos curiosos em si, traduzindo muito bem mais um filme com Saoirse Ronan atirando em pessoas. O qual nunca foi feito.
9/10